REVESTIMENTO DE GESSO LISO
Texto original de Eliane Quinalia, publicado na Téchne 99 - junho de 2005
Desempenado ou sarrafeado, a execução desse acabamento em paredes e tetos
traz agilidade e economia ao empreendimento
Rápido e de fácil aplicação em paredes e tetos, o gesso liso pode proporcionar ao construtor
algumas vantagens, desde que bem planejado e executado. Segundo Yorki Estefan, diretor
de construção da Tecnum Construtora, a racionalização de recursos e a busca pela
otimização de custos impulsionam a escolha dessa opção nos empreendimentos. "Além do
custo reduzido, o material oferece rapidez de execução e um bom acabamento." Entretanto,
para que tenha desempenho adequado e durabilidade prolongada alguns cuidados no
processo de escolha e na execução devem ser observados.
A massa de gesso possui resistência que varia conforme a temperatura e tempo de
calcinação a que a gipsita foi exposta, finura, quantidade de água de amassamento e
presença de impurezas ou aditivos na composição. Os de pega mais rápida apresentam
elevada finura e alta resistência, em razão do aumento da superfície específica, disponível
para a hidratação. A falta ou o excesso de água de amassamento também pode alterar a
pega conforme os valores adicionados - a taxa recomendada de água na hidratação é de
aproximadamente 18,6%.
Por ser altamente solúvel, o gesso deve ser aplicado em áreas internas livres de umidade.
Para iniciar o processo de execução recomenda-se que o substrato - bloco de concreto ou
revestimento à base de cimento - esteja concluído há no mínimo um mês. Após esse
período deve-se verificar o prumo das paredes, corrigindo com argamassa eventuais falhas
e vazios que possam interferir no processo de aplicação.
Tanto em paredes quanto em tetos, com exceção das lajes cujas superfícies internas
precisam de uma ponte de aderência - chapisco rolado - para garantir a fixação do
aglomerado, a aplicação é semelhante. Deve ser iniciada pelo teto, estendendo-se pelas
paredes até completar a metade superior com o auxílio de um andaime. Em seguida, os
andaimes devem ser removidos e a parte inferior da parede finalizada. Esse processo
possibilita duas opções de revestimento: o desempenado (veja passo-a-passo) e o
sarrafeado.
Sarrafeado
No caso do sarrafeamento, as faixas mestras e as taliscas permitem a execução de uma
superfície mais rigorosa e plana, na qual a pasta de gesso é aplicada posteriormente, entre
as mestras. Por fim, o gesso é sarrafeado com réguas de alumínio que cortam o excesso de
pasta. "O processo de sarrafeamento oferece uma garantia melhor de alinhamento, pois
tolera uma menor variação de esquadro, de prumo, além de padronizar o empreendimento",
explica Estefan.
De qualquer forma, independente do método escolhido, é importante que a espessura do
revestimento não ultrapasse 5 mm: o aumento dessa medida pode ocasionar trincas no
gesso. Portanto, as patologias mais comuns podem ser originadas por trincas referentes ao
excesso de espessura, ou, ainda, por fissuras decorrentes de movimentações nas estruturas
que geram deformações na alvenaria. Já nos tetos, essas rachaduras podem ocorrer devido à
junção das lajes com a alvenaria, também sujeitas às tensões estruturais.
Normas
NBR 12127 Gesso para construção - Determinação das propriedades físicas do pó
NBR 12128 Gesso para construção - Determinação das propriedades físicas da pasta
NBR 12129 Gesso para construção - Determinação das propriedades mecânicas
NBR 12130 Gesso para construção - Determinação da água livre e de cristalização e
teores de óxido de cálcio e anidrino sulfúrico
NBR 13207 Gesso para construção civil - Especificações
NBR 13867 Revestimento interno de paredes e tetos com pastas de gesso - Materiais,
preparo, aplicação e acabamento
Dicas
• Evitar o uso de blocos com superfície muito lisa e que tenham absorção de água muito
baixa (blocos cerâmicos requeimados)
• Utilizar gessos de finura elevada, densidade aparente entre 0,7 e 1 que tenham, no
mínimo, 60% de gesso calcinado na composição
• Verificar a resistência à tração do gesso (entre 7 e 35 kgf/cm2) e à compressão (entre 50
e 150 kgf/cm2)
• Vedar as caixas elétricas e demais tubulações hidráulicas durante a aplicação do gesso
liso
• Manter o local da obra livre de sujeiras, corpos estranhos (pregos, arames, aço) e
incrustações para evitar possíveis falhas pré e pós-aplicação do revestimento
• Verificar o alinhamento vertical, horizontal e a existência de ondulações ou defeitos que
possam ser corrigidos
• Verificar com atenção o fator água/gesso. A falta ou excesso pode prejudicar a pega e o
endurecimento da pasta. Recomenda-se o uso de 36 a 40 l de água para cada saco de 40
kg de gesso
Foto 1 - Aplicar com rolo de textura média uma demão de chapisco rolado na superfície
inferior das lajes para garantir a aderência da pasta de gesso
Foto 2 - Remover sujeiras, incrustações e materiais estranhos como pregos, arames e
pedaços de aço até que o substrato fique uniformizado
Foto 3 - Após 72 horas iniciar a preparação polvilhando o gesso na água, dentro da
argamasseira, até que o pó esteja totalmente submerso. A seguir, misturar até obter uma
pasta homogênea e sem grumos
Foto 4 - Começar o trabalho pelo teto, aplicando a pasta com o auxílio de desempenadeira
de PVC em movimentos de vai-e-vem
Foto 5 - Nas paredes (metade superior), o deslizamento deve ser realizado de baixo para
cima. Algum tipo de referência - ripa de madeira, pequenas taliscas ou batentes - deve ser
escolhido para medir a espessura da camada de revestimento
Foto 6 - Regularizar a espessura da camada, aplicando a pasta com a desempenadeira,
agora, no sentido horizontal. Cada faixa deve ser sobreposta à anterior e a espessura da
camada deve ter de 1 a 3 mm
Foto 7 - Retirar os excessos limpando o teto e a parede com régua de alumínio. Em seguida
conferir a espessura do revestimento junto à referência escolhida
Foto 8 - Limpar a superfície com o canto da desempenadeira de aço para eliminar
ondulações e falhas e, depois, aplicar nova camada de pasta para cobrir os vazios e
imperfeições da superfície, assegurando a espessura final do revestimento
Foto 9 - Desempenar cuidadosamente os excessos e rebarbas exercendo uma certa pressão
para obter a superfície final. A aplicação de pintura deve respeitar o período de cura e ser
executada após o lixamento da superfície.